terça-feira, 21 de junho de 2011

As pessoas sensíveis (Sophia de Mello Breyner Andersen - 1919-2004)

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

5 comentários:

  1. A melhor poetisa da segunda metade do século XX:)

    Um poço de sensibilidade:)

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  2. Ainda estou conhecendo (e me encantando cada vez mais...).

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  3. Oi Maíra
    adorei o desfecho.
    Abç

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  4. Bom mesmo, Will! Essa portuguesa sabe das coisas...

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  5. Não somos esse bichinhos tão amáveis hehehe

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