segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Despe-te das palavras e te aquece (Hilda Hilst - 1930 - 2004)

Despe-te das palavras e te aquece.
Toma nas mãos esses odres de terra
E como quem passeia, leva-os ao mar.
Se tudo te foi dado em abundância
O sal e a água de uma maré cheia
Eu te darei também a temperança.

Deita-te depois e vibra tua garganta
Como se fosse o início de um cantar.
Não cantes todavia.
Aqui, zona de tato e calor, margem do ser
Larga periferia, olha teu corpo de carne
Tua medida de amor, o que amaste em verdade.
O que foi síncope.
Todavia não cantes na perplexidade.

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