domingo, 16 de março de 2014

O relógio (Jorge de Lima - 1895 - 1953)

Relógio, meu amigo, és a Vida em Segundos...
Consulto-te: um segundo! E quem sabe se agora,
Como eu próprio, a pensar, pensará doutros mundos
Alma que filosofa e investiga e labora?

Há a morte de ceifar somas de moribundos.
O relógio trabalha...E um sorri e outro chora,
Nas cavernas, no mar ou nos antros profundos
Ou no abismo que assombra e que assusta e apavora...

Relógio, meu amigo, és o meu companheiro,
Que aos vencidos, aos réus, aos párias e ao morfético
Tem posturas de algoz e gestos de coveiro...

Relógio, meu amigo, as blasfêmias e a prece,
Tudo encerra o segundo, insólito - sintético.
A volúpia do beijo e a mágoa que enlouquece.

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