sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O fotógrafo (Manoel de Barros - 1916)

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre
as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha madrugada de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na
pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça
Representou para mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakovski - seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O catador (Manoel de Barros - 1916)

Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania do Ser mais do que Ter.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Cais matutino (Ribeiro Couto - 1898 - 1963)

Mercado de peixe, mercado de aurora:
Cantigas, apelos, pregões e risadas
À proa dos barcos que chegam de fora.

Cordames e redes dormindo no fundo;
À popa estendida, as velas molhadas;
Foi noite de chuva nos mares do mundo.

Pureza do largo, pureza da aurora.
Há viscos de sangue no solo da feira.
Se eu tivesse um barco, partiria agora.

O longe que aspiro no vento salgado
Tem gosto de um corpo que cintila e cheira
Para mim sozinho, num mar ignorado.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Amor (Murilo Mendes - 1901 - 1975)

Os rios falam de ti,
Tantos peixes migradores
Trazem-te cartas do Oriente!

Os anjos circulam suspirando
Em torno da colmeia de teus lábios.

Disfarçado em jardineiro
O Hóspede vem te visitar.

Preso ao teu corpo dia e noite
Perdi a noção do eu
E te amo tanto que não sei mais
Se me salvo ou me danarei.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Soneto futebolístico (Glauco Mattoso - 1951)

Machismo é futebol e amor aos pés.
São machos adorando pés de macho,
e nesse mundo mágico me acho
em meio aos fãs de algum camisa dez.

Invejo os massagistas dos Pelés
nos lúdicos momentos de relaxo,
servindo-lhes de chanca e de capacho,
levando a língua ali, do chão no rés.

É lógico que um cego como eu
não pode convocar o titular
dum time brasileiro ou europeu.

Contento-me em chupar o polegar
do pé de quem ainda não venceu
sequer a mais local preliminar.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

No pequeno museu sentimental (Carlos Drummond de Andrade - 1902 - 1987)

No pequeno museu sentimental
os fios de cabelo religados
por laços mínimos de fita
são tudo que dos montes hoje resta,
visitados por mim, montes de Vênus.

Apalpo, acaricio a flora negra,
e negra continua, nesse branco
total do tempo extinto
em que eu, pastor felante, apascentava
caracóis perfumados, anéis negros,
cobrinhas passionais, junto do espelho
que com elas rimava, num clarão.

Os movimentos vivos no pretérito
enroscam-se nos fios que me falam
de perdidos arquejos renascentes
em beijos que da boca deslizavam
para o abismo de flores e resinas.

Vou beijando a memória desses beijos

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O que diz a morte (Antero de Quental - 1842 - 1891)

Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...

Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem. -

Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das cousas invisíveis, muda e fria,

É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Carnaval do Recife (Ascenso Ferreira - 1895 - 1965)

Meteram uma peixeira no bucho de Colombina
que a pobre, coitada, a canela esticou!
Deram um rabo-de-arraia em Arlequim,
um clister de sebo quente em Pierrô!

E somente ficaram os máscaras da terra:
Parafusos, Mateus e Papangus...
e as Bestas-Feras impertinentes,
os Cabeções e as Burras-Calus...
realizando, contentes, o carnaval do Recife,
o carnaval mulato do Recife,
o carnaval melhor do mundo!

- Mulata danada, lá vem Quitandeira,
lá vem Quitandeira que tá de matá!

- Olha o passso do siricongado!
- Olha o passo da siriema!
- Olha o passo do jaburu!
E a Nação-de-Cambinda-Velha!
E a Nação-de-Cambinda Nova!
E a Nação-de-Leão-Coroado!

- Danou-se, mulata, que o queima é danado!
- Eu quero virá arcanfô!
Que imensa poesia nos blocos cantando:
"Todo mundo emprega
grande catatau,
pra ver se me pega
o teu olho mal!"
- Viva o Bloco das Flores! Os Batutas!
Apois-fum!
(Como é brasileira a verve desse nome: Apois-fum!)
E o Clube do Pão Duro!
(É mesmo duro de roer o pão do pobre!)

- Lá vem o homem dos três cabaços na vara!
"Quem tirar a polícia prende!"

- Eh, garajuba!
Carnavá, meu carnavá,
tua alegria me consome...
Chegô o tempo das muié largá os home!
Chegô o tempo das muié largá os home!
Chegou lá nada...

Chegou foi o tempo delas pegarem os homens,
porque chegou o carnaval do Recife,
o carnaval mulato do Recife,
o carnaval melhor do mundo!

- Pega o pirão, esmorecido!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Martelo (Ascenso Ferreira - 1895 - 1965)

Teu corpo é branquinho como a polpa do ingá maduro!
Teu seio é macio como a polpa do ingá maduro!
- E há doçura de grã-fina no teu beijo, que é todo ingá...
- E há doçura de grã-fina no teu beijo, que é todo ingá...
Por isso mesmo,
Minha Maria,
Eu, como a abelha
do aripuá
pra quem doçura
é sempre pouca,
só quero o favo
de tua boca...
Há veludos de imbaúba nessas redes de teus olhos,
que convidam, preguiçosas, a gente para o descanso,
um descanso à beira-rio como o ingazeiro nos dá!
Por isso mesmo,
Minha Maria,
de noite e dia
nessa corrida
triste de ganso,
para descanso
e gozos meus,
só quero a rede
dos olhos teus!
Só quero a rede macia dos teus olhos!
Só quero a doçura de grã-fina do teu beijo...!
E na rede eu me deito,
cochilo e descanso,
tenho um sono manso
que me faz sonhar...
Sonho que és ingá
de doçura louca,
que na minha boca
vem se desmanchar,
que na minha boca
vem se desmanchar...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Minha escola (Ascenso Ferreira - 1895 - 1965)

A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Luzíadas de Camões!

À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... - A minha adorável vida de criança:
Pinhões...Papagaios...Carreiras ao sol...
Vôos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos de ingazeira pra dentro do rio...
Jogo de castanhas...
- O meu engenho de barro de fazer mel!

De outro lado, aquela tortura:
"As armas e os barões assinalados!"
- Quantas orações?
- Qual é o maior rio da China?
- A 2+2 AB = quanto?
- Que é curvilíneo, convexo?
- Menino, venha dar sua lição de retórica!
- "Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!"
- Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
- Agora, a de francês:
- Quand le christianisme avait apparu sur la terre...
- Basta
- Hoje temos sabatina...
- O argumento é o bolo!
- Qual é a distância da Terra ao Sol?
- !??
- Não sabe? Passe a mão à palmatória!
- Bem, amanhã quero isso de cor...

Felizmente à boca da noite,
eu tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d'Água...
E me ensinava a tomar a bênção à lua nova.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Fagulha (Ana Cristina Cesar - 1952 - 1983)

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Confessionário (Mariana Ianelli - 1979)

Faz tempo não cuido de sondar a morte,
Faz uns anos
Que não durmo em cama estreita
Que não durmo em horas certas
Que não falo das minhas coisas
Que mais doem no peito
Para as alturas apagadas do céu
No meu vislumbramento por Deus.
Faz tantos anos
Que não cuido de sondar a morte
Nem os ciprestes que europeízam nossos túmulos
E que dão verde durante dias e noites.
Minha cabeça contra os lençóis: quero sumiço.
Faz poucos anos estive chamando por Deus.
Foi tão percorrido o repertório dos meus erros
Que Ele jurou o tempo que durasse minha vida
Não corrigir meus extravios, meus desacatos.
Me termino e Deus ainda é sinistro como eu:
Não decide sobre os meus prazeres, minhas estrofações.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Dueto (Mariana Ianelli - 1979)

Nosso segredo de câmara
(Como o de tantos casais)
Seria o acordo de calar um morticínio
O mórbido prazer do gosto amargo
A farsa consentida
Uma legião de demônios
A cada gesto vagamente ambíguo –

Seria ainda o mais escuro,
Não fossem os nossos pés na água
Flutuando sobre as hidras,
A pele onde uma casa
Ao final de um longo exílio,
Uma cruzada de crianças, um dueto,
Nossa corola aberta a cada grito.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Poema perto do fim (Thiago de Mello - 1926)

A morte é indolor.
O que dói nela é o nada
que a vida faz do amor.
Sopro a flauta encantada
e não dá nenhum som.
Levo uma pena leve
de não ter sido bom.
E no coração, neve.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Lugarejo (Eucanaã Ferraz - 1961)

O trem muge o longe.
Os vagões levam toneladas de horas
e astros enferrujados.

Bicho de ferro atravessando
a facão o lombo do dia, enchendo
de metálica melodia a vida
dos homens dali.

Coração é terra que ninguém vê (Cora Coralina - 1889 - 1995)

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.
Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.
Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão
Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A questão (Eucanaã Ferraz - 1961)

Como decidir do desejo?
Algum padrão diz do que
e de quanto vive?

Ele vive do que deseja?
É uma necessidade?
Subsiste no fundo do tempo?

Faz-se num minuto? Morre
no outro? Perdura uma existência inteira?
O desejo que não desejamos,

refreá-lo como? Respiramos.
Há interromper-lhe o passo?
O desejo nos ouve?

É cego? É doido? O desejo vê
mais que tudo? São os nossos
os seus olhos? Se os fechamos,

ele finda? Quem pôs o desejo em nós?
Onde está posto? E onde não?
Penetra o sonho, o trabalho, infiltra

nos livros, no óbvio, nos óculos,
na cervical, na segunda-feira e os versos
não sabem outro tema.

Há quem não deseje?
Tudo o que vive deseja?
Faça-se o exercício: não desejar,

por um mês, uma semana,
um dia. O desejo fabrica-se
de nenhum aval? Ele não teme?

Não receia o sal à face da razão?
Não teme a dor, decerto, que dela
parece, por vezes, primo-irmão.

E perguntamos, perplexos. O desejo
é uma forma oblíqua de alegria? Brinca
conosco? Mas, brincarmos com ele,

ai de nós, é de seus truques
o mais fatal. Morremos de desejo?
Com ele removemos pedras?

Por ele removemos montanhas?
Pode o desejo mover o não?
(O não: esta seta o mata?

Ou esta farpa fomenta o que nele nos ultrapassa
e que, sem nome nem fim, não desistirá
senão quando tudo morto em nós?)

Química tão secreta,
não vale a pena qualquer pesquisa,
uma pluma, este poema.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O apanhador de desperdícios (Manoel de Barros - 1916)

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O inesperado (Neide Archanjo - 1940)

Estou ficando só
diante do mundo
diante dos amigos
e pior
diante do amor.

Estou ficando só
diante de Deus.

Mas não era
para isso acontecer
mais tarde
nem mais tarde?

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Gargalhada (Guimarães Rosa - 1908 - 1967)

Quando me disseste que não mais me amavas,
e que ias partir,
dura, precisa, bela e inabalável,
com a impassibilidade de um executor,
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...
Mas olhei-te bem nos olhos,
belos como o veludo das lagartas verdes,
e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,
tive pena de ti, de mim, de todos,
e me ri
da inutilidade das torturas predestinadas,
guardadas para nós, desde a treva das épocas,
quando a inexperiência dos Deuses
ainda não criara o mundo...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Compreensão (Augusto Frederico Schmidt - 1906 - 1965)

Eu te direi as grandes palavras,
As que parecem sopradas de cima.
Eu te direi as grandes palavras,
As que conjugam com as grandes verdades,
E saem do sentimento mais fundo,
Como os animais marinhos das águas lúcidas.
Eu te direi a minha compreensão do teu ser,
E sentirei que te transfiguras a ti mesmo revelada.
E sentirei que te libertei da solidão
Porque desci ao teu ser múltiplo e sensível.
Quero descer às tuas regiões mais desconhecidas
Porque és minha Pátria
As tuas paisagens são as da minha saudade.
Quero descer ao teu coração como se descesse ao mar,
Quero chegar à tua verdade que está sobre as águas.
Quero olhar o teu pensamento que está sobre as águas
E é azul
Como este céu cortado pelas aves,
Como este céu limpo e mais fundo que o mar.
Quero descer a ti e ouvir
As tuas manhãs acordadas pelos galos.
Quero ver a tua tarde banhada de róseo como nuvens frágeis
tangidas pelo ventos
Quero assistir à tua noite e ao sacrifício dos teus martírios.
Oh! estrela, oh! música,
Oh! tempo, espaço meu!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Como essas coisas começam (Guilherme de Almeida - 1890 - 1969)

Era uma vez...Mas eu nem sei como, onde, quando,
por que foi isso. Eu sei que ela estava dançando.
O jazz-band esgarçava o véu de uma doidice.
Ela olhou-me demais - e um amigo me disse:
- "Cuidado! É sempre assim que essas coisas começam!"

Estas frases banais, vazias, me interessam,
porque elas sempre têm, à flor de certas bocas,
a ressonância musical das coisas ocas.

Deixei meu sonho ecoar dentro daquela frase:
e senti, sem querer, necessidade quase
de começar alguma coisa...

Ontem o amigo
- o precioso banal - encontrou-se comigo.
Ele pôs num sorriso esta frase indiscreta:
- " Então, quando é que acaba essa história, meu poeta?"

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Compromisso (Oswald de Andrade - 1890 - 1954)

Comprarei
O pincel
Do Douanier
Pra te pintar
Levo
Pro nosso lar
O piano periquito
E o Reader's Digest
Para não tremer
Quando morrer
E te deixar
Eu quero nunca te deixar
Quero ficar
Preso ao teu amanhecer