segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O homem que me sorri (Maíra Silva da Fonseca Ramos)

O homem que me sorri é jovem, tem negros olhos marcantes e fartos cabelos, também escuros. Sobrancelhas grossas, que lhe dão um ar interrogador, questionando a vida.

Veste terno, gravata escura e camisa clara. Parece pronto para uma festa de gala, com seu cabelo arrumado e sua melhor roupa.

O homem que me sorri não possui uma única ruga no rosto ou mesmo marca de expressão. Seu riso é calmo, seu olhar, penetrante. Parece pensar em algo distante dali.

Aquele jovem que agora vejo à minha frente não deve existir mais. Talvez já seja um senhor cansado da vida, com rugas, cicatrizes e sem cabelos. Talvez seu olhar agora seja vazio, despido de emoção ou dúvidas. Talvez seu sorriso já não seja sereno. O terno que vestiu um dia talvez não lhe caiba mais.

O homem que me sorri talvez nem se recorde do dia em que se vestiu com sua melhor roupa e tirou a fotografia, em preto e branco, que agora tenho em mão, adquirida na Feira de Antiguidades de San Telmo, muitos e muitos anos depois.

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