sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ovalle (Manuel Bandeira - 1886-1968)

Estavas bem mudado
Como se tivesses posto aquelas barbas brancas
Para entrar com maior decoro a Eternidade

Nada de nós te interessava agora
Calavas sereno e grave
Como no fundo foste sempre
Sob as fantasias verbais enormes
Que faziam rir os teus amigos e
Punham bondade no coração dos maus

O padre orava:
- "O coro de todos os anjos te receba..."
Pensei comigo:
Cantando Estrela brilhante
Lá do alto-mar!...

Levamos-te cansado ao teu último endereço
Vi com prazer
Que um dia afinal seremos vizinhos
Conversaremos longamente
De sepultura a sepultura
No silêncio das madrugadas
Quando o orvalho pingar sem ruído
E o luar for uma coisa só.

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