terça-feira, 26 de abril de 2011

Beijos mortos (Martins Fontes - 1884-1937)

Amemos a mulher que não ilude,
e que, ao saber que a temos enganado,
perdoa por amor e por virtude,
pelo respeito ao menos do passado.

Muitas vezes, na minha juventude,
evocando o romance de um noivado,
sinto que amei outrora quanto pude,
porém mais deveria ter amado.

Choro. O remorso os nervos me sacode.
E, ao relembrar o mal que então fazia,
meu desespero inconsolado explode.

E a causa dessa horrível agonia,
é ter amado, quanto amar se pode,
sem ter amado quanto amar devia.

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