quinta-feira, 7 de abril de 2011

In extremis (Olavo Bilac - 1865-1918)

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...

E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...

E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...

Eu, com o frio a crescer no coração, - tão cheio

De ti até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se  amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!

E eu morrendo! e eu morrendo
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! a delícia da vida!

3 comentários:

  1. Muito Muito Bom!!!

    Um dia gostava de escrever algo parecido... Metade que fosse...

    10%...lol

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  2. Morrer de amor é renascer nas lembranças de cada beijo, de cada toque.
    Abç

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  3. Também gostaria de escrever assim: limpo, fluido, usando as palavras certas...

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