sábado, 23 de abril de 2011

Psicologia de um vencido (Augusto dos Anjos - 1884-1914)

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

2 comentários:

  1. :) Expressa o que já todos sentimos:)

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  2. O que espanta nesses versos de Augusto dos Anjos é a escolha das palavras: todas difíceis, mas nele soa bem. E como soa...

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