terça-feira, 12 de abril de 2011

Traduzir-se (Ferreira Gullar - 1930)

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Um comentário:

  1. essa poesia é linda estou gravando ela para um trabalho de lingua portuguesa do prof raimundo josè viana...assina:a aluna luana pimenta

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