quarta-feira, 4 de maio de 2011

Da primeira vez em que me assassinaram (Mario Quintana - 1906-1994)

Da primeira vez em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

3 comentários:

  1. Dos brasileiros um dos meus preferidos...

    Finalmente um que conheço:)

    ResponderExcluir
  2. M., eu também o adoro! Vou postar mais dele por aqui...

    ResponderExcluir
  3. De fato morremos tantas vezes, de tantas formas, que nem sei!

    ResponderExcluir