terça-feira, 3 de maio de 2011

Passo por meus trabalhos tão isento (Camões 1524-1580)

Passo por meus trabalhos tão isento
de sentimento grande nem pequeno,
que só pela vontade com que peno
me fica Amor devendo mais tormento.

Mas vai-me Amor matando tanto a tento,
temperando a triaga com veneno,
que do penar a ordem desordeno,
porque assim mo consente o sofrimento.

Porém, se esta fineza o Amor não sente,
e pagar-me meu mal com mal pretende;
torna-me com prazer como ao Sol neve.

Mas se me vê co' males tão contente,
faz-se avaro da pena, porque entende
que quanto mais me paga, mais me deve.

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