segunda-feira, 20 de junho de 2011

O cofre (Ivan Junqueira - 1934)

Um cofre apenas sobre a terra
e o rosto antigo, em véus imerso,
de uma donzela que o trouxera
em suas mãos de névoa e sépia.

Um cofre (o fel de seu mistério)
sepulto sob o musgo e as messes,
e essa donzela que viera
desde os confins, canção submersa,

tocata e fuga sobre teclas
de um cravo já sem pétalas,
mas cujo espinho ainda te fere
por entre as frestas do pretérito.

Um cofre é tudo quanto resta
a quem o leva, como um féretro,
por pátios, becos e vielas,
rumo ao secreto cemitério;

é tudo (nada) o que apetece
a quem dentro de si o enterra,
sem flores ou piedosa prece
que o encomende à vida eterna,

sem nenhum verso que o celebre
ou lhe abra as pálpebras de ferro
para que ali um sonho medre
dentro do sono que o encarcera.

Um cofre apenas, os ciprestes
de um adro arcaico onde estiveste,
quando fremia essa donzela
à tua espera. E não vieste. 

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