sábado, 11 de junho de 2011

Versos a um coveiro (Augusto dos Anjos - 1884-1914)

Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
- Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!

Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!

Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!

Nenhum comentário:

Postar um comentário