sábado, 6 de agosto de 2011

Idealismo (Augusto dos Anjos - 1884-1914)

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
Da Messalina, e de Sardanapalo?!

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
- Alavanca desviada do seu fulcro -

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!

2 comentários:

  1. Soneto perfeito, como aliás, quase todos do poeta maior.

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  2. O seu mestre eh demais. Nem digo "foi" porque ele ainda faz escola e deixou imenso legado...

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