quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O poeta (Ivan Junqueira - 1934)

O poeta está morto.
Cerrem-lhe as pálpebras,
o olhar absorto,
a boca cheia de tropos
e metáforas barrocas.
Sepultem aquele broto
que em sua garganta rouca
endureceu com o caroço
e a voz outrora doce
lhe afogou em fundo poço.
Deixem-lhe o corpo exposto
para que vejam o que pôde
fazer a morte e sua foice
com aquele que fora
corola, diamente, voo.
O poeta está morto.
Pouco importa agora o sopro
que lhe deu vida e alvoroço,
como tampouco o áspero corvo
que a alma lhe pôs em fogo.
Restam-lhe os versos, poucos,
e as sílabas já sem fôlego
às quais se agarrou com força
porque as ouvia como agouro
de um fugaz e último coro.
O poeta está morto.
Que nos sangrem, garras de osso,
as suas marcas do zorro.

2 comentários:

  1. obrigado pelo parabéns!! ^^
    E concordo com esse texto, pois, não importa onde o corpo físico da pessoa esteja. Basta ela ter marcado o mundo de uma certa forma para que elas se tornem imortais. Eu, por exemplo, sou fã do Olavo Bilac!!

    ResponderExcluir
  2. Volte sempre, Netto Feel! E aqui tem também Olavo Bilac...

    ResponderExcluir