sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sortilégio (Ferreira Gullar - 1930)

Eu estava ali
no escuro e
     de repente
     o silêncio se move

     enruga-se, melhor
     dizendo, e me
     roça as virilhas
     (onde dormiam fúrias)

É quando uma
quase voz me toca
o lado esquerdo
do corpo para onde
me volto
e estás ali
nua

     emergias da treva
as coxas o ventre
os seios
          eram luas encantadas
          e do centro
          do teu corpo
          a macia estrela negra
me chamava
para dentro de si
enquanto o teu rosto menino
espantosamente familiar
sorria a me dizer: jamais
          jamais jamais
          escaparás

Um comentário:

  1. Ferreira Gullar é sensual e ao mesmo tempo é simples...Um delírio cheio de vida e magia, como deve ser a verdadeira poesia!.

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