segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Travesseiros (Mario Benedetti - 1920-2009)

Nunca foi fácil
encontrar o travesseiro
adequado a meus sonhos
à sua medida exata

na cabeça noite
se cruzam fadigas
se afundam as rugas
da pobre vigília

na cabeça noite
fogem apavorados
as árvores e os muros
os corpos de alumínio

eu não escolho meus sonhos
é o travesseiro / é ele
que os incorpora
em desordem de feira

muito menos escolho
os pesadelos loucos
esses livros de vento
sem letras e sem folhas

mas depois de tantos
travesseiros sem conto
sem história e sem asas
como sempre prefiro

o do teu ventre cálido
perto perto pertinho
do refúgio imantado
dos teus peitos da vida.

2 comentários:

  1. Eu gostei muito da poesia, tens um dom!! :)

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  2. Obrigada pela visita, Lara! Seja muito bem vinda aqui. De vez em quando passeio pelo teu blog (rsrs).

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