segunda-feira, 17 de outubro de 2011

É tão pouco... (Ivan Junqueira - 1934)

É tão pouco o que podes, quase tanto
quanto um menino na erma imensidão,
o corpo sem valia, a alma em abandono,
os pés suspensos no infinito, o rosto
em lágrimas, o opresso e frágil coração.
É tão pouco o que podes, muito menos
do que uma pálida e fugaz recordação
ou os músculos crispados e ofegantes
às bordas do penhasco que galgaste
no esforço de uma inútil ascensão.
É tão pouco o que podes, é sequer
o que outros, menos hábeis, poderão.
Ou nem isso, essa raiz que se atrofia,
essa migalha que esfarinha em tua mão,
essa flor que não floresce nem sucumbe,
esse pássaro implume, essa insepulta
e agônica semente que plantaste em vão.

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