terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mulher ao espelho (Cecília Meireles - 1901-1964)

Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram-se sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

2 comentários:

  1. descobri Cecília um pouco tarde. grande poeta, densa na simplicidade.

    ResponderExcluir
  2. Infelizmente não conheço a fundo a obra dela, mas gosto de todos os poemas que já li da Cecilia Meireles...

    ResponderExcluir