O homem entrou no hospital
e disse: "Não me sinto bem".
Então, extraem-lhe o apêndice
e lavam-no com formol.
"Sente-se melhor?" Responde: "Não".
Mas os médicos dão-lhe coragem
e cortam-lhe a perna esquerda,
garantindo: "Agora vai ficar bom".
Continua a sofrer, no entanto,
e enche de gritos o hospital.
Para descobrir o que pode ser,
praticam-lhe uma cesariana.
Embora doutíssimos no ramo,
os cirurgiões fazem caretas.
Mudo, sem forças para gritar,
ele morrer, não morre não.
Esvai-se-lhe pouco a pouco o sangue,
o ar já lhe vai faltando?
Serram-lhe três costelas,
e finalmente expira.
O cirurgião-chefe contempla o cadáver.
Aí, pergunta-lhe um estudante:
"Que coisa tinha esse pobre diabo?".
O doutor, engasgado, murmura:
"Acho que era apenas fome".
* Poema traduzido por Carlos Drummond de Andrade e constante do livro "Poesia Traduzida", editado pela Cosac Naify.
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