segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Meios de transporte (João Cabral de Melo Neto - 1920-1999)

 
                            1
O câncer é aquele ônibus
que ninguém quer mas com que conta;
não se corre atrás dele,
mas quando ele passa se toma;

que ninguém quer mas sabe;
e que um dia ao sair-se do sono,
lá está, semi-surpresa,
quase pontual, no seu ponto.

                            2
Sem pontos de parada,
solto nas ruas como um táxi,
sem o esperar, querer,
sem ter por que, se toma o enfarte:

táxi que, de repente,
ao lado de quem não se pensava,
pára, no meio-fio,
toma, quem não o vira ou chamara.

2 comentários:

  1. Incrível a temática e a forma como a descreve!!!

    Genial!!!

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  2. Esse poeta brasileiro levava meses para terminar um poema. Dizia que um poeta precisa de "transpiração" para trabalhar. Não acreditava em inspiração. E tem coisas lindíssimas mesmo!

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