sábado, 10 de dezembro de 2011

Corvo (Hermes Fontes - 1888-1930)


Em cima, o azul da esfera interjeições arranca,
embaixo, o mar, nervoso e insone, se espreguiça;
e a praia, em curva, é toda uma ampla toalha branca,
manchada pela cor sanguínea da carniça.

Vede: um corvo! (Que mau agouro) Sobre uma anca
pousa: belisca e rasga, abre, revolve, erriça,
retalha o peito, o ventre... A mesa é lauta e franca
e a fome é um tribunal - que oficiais de justiça!

Desses que, da miséria alheia enriquecidos,
vivem do ouro pelo ouro, inda os há mais ferozes
- têm cinco dentes mais, ao invés dos sentidos...

E a civilização não queima esses atrozes
corvos que, a sangue humano e lágrimas nutridos,
querem do alto pompear com penas de albatrozes?...

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