domingo, 18 de dezembro de 2011

Os pombos (Magalhães Braga - 1886 - 1944)


Meu coração é um berço. Se o rasgasse,
nele veriam três pombos que falam.
Falam, mas um soluça, e os três embalam
o berço e os sonhos que no berço nascem.

Dois são brancos. Se os três sempre cantassem,
que festa! Mas se horrores me apunhalam,
dois desses pombos para os céus abalam,
como se o berço pelos céus trocassem.

Esperança é o primeiro. Não resiste
como o segundo, Amor. O outro é puro,
Saudade, um pombo negro, um pombo triste.

Ai de mim quando a treva o berço junca!
Os pombos brancos fogem, fica o escuro,
o que soluça não me deixa nunca.

2 comentários:

  1. Acho pombos animais muito simbólicos, e testemunhas de muita coisa hehe... embora sejam mais do que os próprios animais nessa poesia...

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  2. Eu nem gostava muito de pombos, mas vou ter que olhar pra eles de outra forma agora, depois de ler esse poema. De fato, aqui eles não são só pombos: passam a ser o próprio poeta em três dimensões distintas...

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