segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Noturno (Augusto dos Anjos - 1884 - 1914)

Chove. Lá fora os lampiões escuros
Semelham monjas a morrer... Os ventos
Desencadeados vão bater, violentos,
De encontro às torres e de encontro aos muros.

Saio de casa. Os passos mal seguros
Trêmulo movo, mas meus movimentos
Susto, diante do vulto dos conventos,
Negro, ameaçando os séculos futuros!

De São Francisco no plagente bronze
Em badaladas compassadas onze
Horas soaram... Surge agora a Lua.

E eu sonho erguer-me aos páramos etéreos
Enquanto a chuva cai nos cemitérios
E o vento apaga os lampiões da rua!

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