segunda-feira, 5 de março de 2012

A um ausente (Carlos Drummond de Andrade - 1902 - 1987)

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

2 comentários:

  1. Lindo. um dos meus preferidos.
    Como eu gosto desse lugar!
    Deixa eu te contar: a L&PM tem uma coleção pocket com os poetas nacionais... por 19 reais já comprei a Cecilia Meireles com 157 poemas!
    Se bobear você já até conhece!
    Quando vier novamente a ctba me avise, pois se algumn dia eu for a brasilia pode estar certa q te avisarei hahaha bjs, boa semana.

    ResponderExcluir
  2. Não conheço essa coleção, não! Bem barato, né? Vou ver se acho por aqui. Tenho comprado coletaneas, que nunca saem por menos de 50 reais (rsrs). Pode deixar que da próxima vez a gente se encontra, aqui ou aí... Bjim!!!

    ResponderExcluir