sexta-feira, 27 de abril de 2012

Um mundo (Eucanaã Ferraz - 1961)

Onde montanhas não são levantamentos
íngrimes de terra. Onde rios não são cursos
de água que se vão lançar no mar,
nos lagos, noutros rios. As casas

não têm paredes ou teto, ruas
não são vias de acesso, caminhos não vão
de um ponto a outro e os pontos não põem
fim, não abreviam, não são laçadas na malha

da lã ou nas voltas da linha. Por sua vez,
linhas não são fios, nem fibras, nem traços.
Não há sulcos na palma das mãos. Não há frentes
de combate. Linhas não são rumos

ou normas. O Equador não é o anel extremo do globo
e as superfícies esféricas não se chamam esferas.
Não há moedas. O espaço ilimitado, indefinido
no qual se movem os astros é a terra, enquanto

acima das cabeças, pregados pelo horizonte, densos,
amarelos, vão jardins em movimento. Venta.
Há um vento constante, há um canto constante.
Pode-se ver a música, de terraços, belvederes

e torres instaladas para tal finalidade. Mundo
em que se ganha o que se perde.
Toda pedra é pérola. Onde o amor
é entre duas mulheres.

Um comentário:

  1. Tem coisas maravilhosas acumuladas pra eu ler nesse seu espaço! Preciso compensar o um mês de ausência! Bjs.

    ResponderExcluir