segunda-feira, 30 de julho de 2012

Água e canoa (Thiago de Mello - 1926)

Só cantando me sou todo:
escápula escarnecida,
terçadada exótica, tremor
de coração costurado.
Prefiro cantar na sombra
da constelação de guarda.
É meigo o canto que escorre
pelo peito fatigado,
mas não deixa ver que é lágrima:
chama em vão a água a canoa.

Um fulgor de antemanhã;
a inteligência se livra
da amarra do coração
e o pensamento, menino
descobrindo a vida,
vai para a beira das águas
empurrar o batelão:
viagem de proas altas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário