terça-feira, 24 de julho de 2012

Soneto de constatação - XXVII (Pedro Lyra - 1945)

Amor — única síntese da vida.
E o só se atinge por curvas, de viés:
se se quiser amar
— tem-se que conceder;
se se quer ser amado
— tem-se que denegar.

Infunde náusea ou júbilo, sem meio-termo.
Se às vezes satisfaz, quase sempre contraria:
queremos reter o gozo
— desliza na fruição;
queremos deter a dor
— se petrifica na mágoa.

Põe um sentido à vida
fugaz — por já passando;
pospõe-lhe um sem-sentido
constante — por presente.
E nos larga no éter, sem referência e sem volta.

Amante
não se sabe o que fazer com esta graça.
Amado
não se sabe o que fazer com esta fonte.

Triste: só o não-amante sabe ser amado.

Um comentário:

  1. Se se quiser amar, tem-se que conceder
    Se se quer ser amado, tem-se que denegar

    Amor é troca e só existe a dois.

    Parabéns, linda escolha.

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