sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Dedicatória (Mariana Ianelli - 1979)

Para Julieta, in memoriam

Neste tempo já não te brindavam,
não vinha o amor de dois olhos
conformando sequer tua saída.
Não se viu uma criança
para corrigir teus receios,
acobertá-los com uma brincadeira.
Na revolta da agonia tiveste
alucinações viajantes
e te cansaste da espera material
tão ríspida, tão tão prolongada.
Não vimos nada, nem teu enlevo
ou a certeza do teu desapego.
A noite estava marcada,
uma essência pairou sobre a cama,
alguém (que não vimos)
trouxe para o quarto uma realidade enternecida.
...Tu entraste.
Foste com tua simpatia,
a memória de súbito acesa.
E porque não vimos qual o teu rumo
um trauma nos acometeu,
desgraçamos tua retirada.
Arrependidos, nós.
Teu corpinho era uma cidade perdida,
com a desolação que deixa
uma cidade perdida, a regredir
só pela paciência escorregadia de um século.
Pensamos : foste quieta para a terra.
Não houve quem assentisse na tua canção na noite,
uma esperança sublimada.
Foste, airosa, rodeada de violetas,
minha pequenina eleita.

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