quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Eu, Tu, Eros (Nei Leandro de Castro - 1940)

Eros e eu compomos a forma do teu corpo.
Não seguimos a lógica da anatomia
e passamos ao largo de toda a beleza
contida no teu rosto,
nos teus seios, nos teus cabelos em chamas.
Começamos pela rosa do umbigo, rosa de carne
plantada na planície suave do teu ventre.
Prosseguimos, para escalar
a vertigem do teu monte de Vênus
e ensaiamos gritar como alpinistas vencedores,
mas já estávamos nos debatendo
no rio de leite e mel que corre de tuas nascentes.

As tuas pernas estão abertas, porteiras abertas,
e assim poderias deter um rebanho de faunos
com suas flautas doces, suas armas em riste.
Estás em silêncio. Eros gargalha.
A ternura me envolve, me faz quase triste.

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