domingo, 25 de novembro de 2012

Não é o amor quem morre (Luis Cernuda - 1902 - 1963)

Não é o amor quem morre,
somos nós mesmos.

Inocência primeira
Abolida em desejo,
Esquecimento de si mesmo em outro esquecimento,
Ramas entrelaçadas,
Por que viver se desapareceis um dia?

Só vive quem vê
Sempre diante de si os olhos de sua aurora,
Só vive quem beija
Aquele corpo de anjo pelo amor levantado.

Fantasmas da pena,
À distância, os outros,
Os que esse amor perderam,
Como uma lembrança em sonhos,
Percorrendo as tumbas
Outro vazio estreitam.

Por lá vão e gemem,
Mortos em pé, vidas por trás da pedra,
Golpeando a impotência,
Arranhando a sombra
Com inútil ternura.

Não, não é o amor quem morre.


* Tradução de Pedro Gonzaga

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