terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Barbarola (Eudoro Augusto - 1943)

Hoje suja
a vida ainda apetece
e um fio de luz imunda me tece
enlaça ao sol meus olhos fechados
vermelhos inchados
ainda boiando no pântano da noite.
O mundo visível. Um clarão terrível.
Já em fogo o dia me recebe
com um sopro indiferente.
Com sua horda bárbara de ruídos,
risos, rezas, rosnada realidade.
Penso em vencer a repugnância
e beijar fundo a sua boca aberta.
Penso em navegar pelos mares de sua luz
e outra vez vestir a malha do sono.
Penso em ti. Penso em mim.
Um fragmento de carne pulsante
em forma de coração
coberto de erva e treva.
Luz, alegria: agora tudo apenas
fosca memória tilintante.
Sem mais, comunico com pesar
que o projeto Eudoro Augusto
não é viável neste momento.

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