quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Poética (Claudio Willer - 1940)

então é isso
quando achamos que vivemos estranhas experiências
a vida como um filme passando
ou faíscas saltando de um núcleo
não propriamente a experiência amorosa
porém aquilo que a precede
e que é ar
concretude carregada de tudo:
a cidade refluindo para sua hora noturna e todos
indo para casa ou então marcando encontros
improváveis e absurdos, burburinho da multidão
circulando pelo centro e pelos bairros enquanto as
lojas fechadas ainda estão iluminadas, os loucos
discursando pelas esquinas, a umidade da chuva
que ainda não passou, até mesmo a lembrança da
noite anterior no quarto revolvendo-nos em carícias
e mais nosso encontro na morna escuridão de um
bar - hora confessional, expondo as sucessivas
camadas do que tem a ver - onde a proximidade
dos corpos confunde tudo, palavra e beijo, gesto e
carícia
TUDO GRAVADO NO AR
e não o fazemos por vontade própria
porém por atavismo

Nenhum comentário:

Postar um comentário