segunda-feira, 1 de abril de 2013

A véspera (Thiago de Mello - 1926)

A véspera já é certeza
que se antecipa chegando
no gosto do que vai ser.

A véspera já aconchega
a tua ausência no riso
com que sabes receber.

Tudo é véspera no amor.
No instante em que se inaugura
minha carícia em teu peito,

ela se sonha descendo,
no dorso da madrugada
pelo côncavo perfeito

dos quadris que se iluminam
quando a luz da minha língua
trabalha a felicidade

misteriosa que se abriga
numa floresta de pêlos,
cidadela da verdade

que tem de clave o meu nome,
e só por isso se entreabre,
desmurada por meu sonho,

para me entregar o sol
que vai acender a vida
toda que vivi de véspera.

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