sexta-feira, 26 de abril de 2013

Horas mortas (Alberto de Oliveira - 1859 - 1937)

Breve momento, após comprido dia
de incômodos, de penas, de cansaço,
inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
posso a ti me entregar, doce Poesia.

Desta janela aberta à luz tardia
do luar em cheio a clarear no espaço,
vejo-te vir, ouço-te o leve passo
na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica.
Mas é tão tarde! Rápido flutuas,
tornando logo à etérea imensidade;

e na mesa a que escrevo apenas fica
sobre o papel - rastro das asas tuas -
um verso, um pensamento, uma saudade.

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