Você tem todas as cores
- azul, lilás, carmesim -
E dorme sempre ao meu lado,
Entre um bruxo e um querubim.
Você não muda; é assim:
ora se queixa, ora ri,
às vezes não diz palavra
e olha de banda pra mim.
Eu ganhei você um dia,
cheio de laços e fitas;
até guizos você tinha
na gola e nos borzeguins.
Eu pus você entre os livros,
junto às garrafas de vinho,
sob as urzes e as glicínias
que cresciam no jardim.
Mas aos poucos suas cores
foram ficando sem viço,
e a bruma, como um feitiço,
vestiu você de velhice.
Sob o verde pinheirinho,
onde mil luzes cintilam,
vez por outra você brilha
mais até que o sol a pino.
Um dia (claro, é a vida)
você se irá de mansinho,
mas deixará, eu sei disso,
em minha carne um espinho.
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