segunda-feira, 8 de julho de 2013

fogos de artifício (Geraldo Carneiro - 1952)

a primeira vez que vi Julia
minha espada tremeu à porta do seu castelo
e eu sonhei com gritos e serenas tempestades
e as torres despencaram em ruínas
e as noites fabricaram fogos de artifício
e os cegos decifraram luas

e a segunda vez que vi Julia
não havia mais rumor de animais no parque
e as fontes despejaram lodo e raios
e os navios naufragaram no espelho das águas
e os mares abortaram peixes

a terceira vez que vi Julia
o seu carro parou na frente do edifício
e os mendigos se abriram sob as marquises
e os insetos silenciaram a chuva mais prosaica
do mundo

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