terça-feira, 23 de julho de 2013

Soneto de velhice e almas (Ruy Espinheira Filho - 1942)

Também no corpo, sim. Mas sobretudo
é na alma que me sinto envelhecer.
Ouço-a cantar canções de adormecer
e me parece que, por fim, já tudo

está cumprido. Em breve serei mudo,
e surdo, e cego... Todo amanhecer
se foi. Não há futuros. Vai descer
logo a noite absoluta sobre tudo.

Mas, felizmente, a alma que me fala
não é a única do meu enredo.
Visto-me de outra, e a anterior se cala.

E, de alma nova, sou diverso, ledo,
ouvindo a voz serena que me fala
que para adormecer ainda é cedo.

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