quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Cântico (Domingos Carvalho da Silva - 1915 - 2004)

Do teu corpo nasce um lírio
que se dissolve num lago
onde um cisne de marfim
persegue estrelas e carpas.
Onde o sol molha no frio
das águas o rosto ardente.
Onde os salgueiros mergulham
as pontas na rama verde.
Do lago desponta a noite
com sua face ardósia,
engalanada de círios
e perfumada de morte.
Da noite nasce um relâmpago
Com sete pontas de luz:
sete espadas pra manchar
de sangue o ventre da lua.
Teu corpo é assim: como as ondas
de um mar rouco, em desvario,
de onde me assalta, em sua fúria,
o monstro do Apocalipse.
Cardo de agudos espinhos
ou sensitiva de carne,
teu corpo é um trigal de lanças
e morre ao toque dos lábios.

Um comentário:

  1. Gosto muito desse poema, especialmente dessa parte:
    "Cardo de agudos espinhos
    ou sensitiva de carne,
    teu corpo é um trigal de lanças
    e morre ao toque dos lábios."

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