domingo, 2 de fevereiro de 2014

Como essas coisas começam (Guilherme de Almeida - 1890 - 1969)

Era uma vez...Mas eu nem sei como, onde, quando,
por que foi isso. Eu sei que ela estava dançando.
O jazz-band esgarçava o véu de uma doidice.
Ela olhou-me demais - e um amigo me disse:
- "Cuidado! É sempre assim que essas coisas começam!"

Estas frases banais, vazias, me interessam,
porque elas sempre têm, à flor de certas bocas,
a ressonância musical das coisas ocas.

Deixei meu sonho ecoar dentro daquela frase:
e senti, sem querer, necessidade quase
de começar alguma coisa...

Ontem o amigo
- o precioso banal - encontrou-se comigo.
Ele pôs num sorriso esta frase indiscreta:
- " Então, quando é que acaba essa história, meu poeta?"

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