domingo, 30 de novembro de 2014

Retrato de Katia (Mariana Ianelli - 1979)

Separada da tua sorte, desde muito,
trago junto da manhã
teus olhos estrangeiros e assustados.
Todo retrato que defendo para mim.
Num segundo meio deslocado
da nossa espera sem-razão, adiante,
te verei mulher de uma clareza expandida
que me confundirá.
Vejo estes silvestres para que eu não te duvide
quando surgires entre eles e eu te redescobrir.
Tua boca não é essa, não é como nenhuma,
a tua boca é só a tua
e os olhos que eu lembro,
não os mais belos, não os mais quentes,
são o teu brilho triste de ser, tua síntese azul.
E quando vieres, eu te pergunto,
serás quem eu lembro?
Luto, emboscada, revolta italiana,
ou terás merecido os outros
que me põem muito medo
por seus caminhos hesitantes, suas armadilhas?...
Organizo aquela mesma menina
jogando o cabelo louro para trás
e peço repetidamente
que sejas ela quando vieres,
que eu sorria, quando vieres,
como outra criança que te fizesse festa.
Alguma saudação calada entre a gente
de improviso vai lembrar e esquecer
o peso obrigatório dos dias.
Adiante, surgiremos desvelando nosso próprio susto.
Agora vem, que está feita a minha prece.

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