sábado, 26 de março de 2011

Vens da pobreza das casas do sul (Pablo Neruda - 1904-1973)

Vens da pobreza das casas do Sul,
das regiões duras do frio e terremotos
que, mesmo quando os seus deuses rolaram para a morte,
nos deram a lição da vida na argila.

Tu és um cavalinho de argila preta, um beijo
de barro escuro, amor, papoila de argila,
pomba do crepúsculo que voou nos caminhos,
mealheiro de lágrimas da nossa pobre infância.

Moça, tu conservaste o coração de pobre,
os pés de pobre acostumados às pedras,
a boca que nem sempre teve pão ou delícia.

Tu és do Sul pobre, donde minha alma vem:
no seu céu a tua mãe continua a lavar roupa
com a minha. Por isso te escolhi, companheira.

2 comentários:

  1. Oi Maíra,
    perfeito esse poema. Neruda conseguia ver poesia onde ninguém mais via. Tanto que dizia ser capaz de beber os montes, as paisagens.
    Abç

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  2. Neruda foi um verdadeiro poeta, no sentido mais intenso do termo. Adoro os poemas dele...

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