terça-feira, 31 de maio de 2011

A árvore da serra (Augusto dos Anjos - 1884-1914)


- As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma!...

- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

5 comentários:

  1. Perfeito.
    Só passando pra um oizinho!
    bjo

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  2. Um dos Sonetos mais transgressores da literatura mundial. Personagens, diálogos e narrador. Só o gênio de Augusto para fazer isso.

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  3. É verdade, Jairo! Sabe que não tinha pensado nisso ainda? Nunca vi um poema com diálogos antes, não que eu me lembre...

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