quarta-feira, 25 de maio de 2011

A serra do Rola-Moça (Mario de Andrade - 1893-1945)

A serra do Rola-Moça
não tinha esse nome não...
eles eram do outro lado,
vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
o noivo com a noiva dele
cada qual no seu cavalo.

Antes que chegasse a noite
se lembraram de voltar.
Disseram adeus para todos
e se puseram de novo
pelos atalhos da serra
cada qual no seu cavalo.

Os dois estavam felizes,
na altura tudo era paz.
Pelos caminhos estreiros
ele na frente, ela atrás.
E riam. Como eles riam!
Riam até sem razão.
A serra do Rola-Moça
não tinha esse nome não.

As tribos rubras da tarde
rapidamente fugiam
e apressadas se escondiam
lá embaixo nos socavões
temendo a noite que vinha.

Porém os dois continuavam
cada qual no seu cavalo,
e riam. Como eles riam!
E os risos também casavam
com as risadas dos cascalhos
que pulando levianinhos
da vereda se soltavam
buscando o despenhadeiro.

Ah! Fortuna inviolável!
O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.

Faz um silêncio de morte.
Na altura tudo era paz...
Chicoteando o seu cavalo,
no vão do despenhadeiro
o noivo se despenhou.

E a serra do Rola-Moça,
Rola-Moça se chamou.

9 comentários:

  1. Adorei seu blog. Já li tanta coisa interessante, saí 'fuçando', achando pérolas... Demais. Gostei muito, mesmo. Voltarei, de certo, mais vezes, para apreciar essa beleza que reverdece. Que tenhas alegrias e saúde. Sucesso! Hoje e sempre.
    Se tiver um tempo, dê uma esticada até meu blog de poesias. Se gostar e quiser me adicionar, vou gostar demais. Deixe seus coments. Eu já tô te 'perseguindo'. Não poderia ser diferente, pois adorei seu espaço. Abraço iluminado,
    João Ludugero, poeta.
    www.ludugero.blogspot.com

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  2. Maira querida, seu blog me inspira! Não nos conhecemos mas a considero uma pessoa muito sensivel e especial! Boa noite, beijos.

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  3. Obrigada pela visita, João Ludugero! Fico feliz que tenha gostado das poesias que já postei aqui do blog. Volte sempre que quiser...

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  4. Andressa, uma das minhas únicas comentadoras diárias (rsrs), o blog também acaba sendo um pouco seu, viu? Beijos e obrigada!!!

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  5. Adorei ter encontrado este poema que lembra a minha infância, decoramos esta poesia na escola Estadual para declamarmos em sala de aula, ela me traz saudades!, obrigada!

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  6. Que maravilha. Também na minha infância tive que decorar este poema. Como demorei a decorar e como gostei do poema, ficou marcado para sempre em minha vida. Parabéns pelo revival.. um forte abraço .

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  7. EMOCIONANTE POEMA DE MÁRIO DE ANDRADE QUE MARTINHO DA VILA TÃO BELAMENTE MUSICOU! APESAR DE TER NO FINAL UMA TRÁGICA HISTÓRIA ENTRE UM FELIZ CASAL, POETICAMENTE FALANDO, LINDO DEMAIS!

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  8. OMG que trágico. Li sobre esse conto num livro de Lygia Fagundes Telles e resolvi vir checar. Muito bom.

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  9. Lembro de ter lido este poema quando estava na sexta série, e isso foi há décadas. Mas nunca esqueci, todas as vezes que vejo alguma notícia sobre o lugar me recordo dele... Muito legal. Toda tragédia acaba por ter um toque de poesia...

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