sábado, 23 de julho de 2011

A prostituta (Manuel Ribeiro - 1878-?)


Nessa viela, onde mal entra o ar,
viceja a pobre cortesã do vício
que, como outro qualquer que tem ofício,
aluga o corpo para o sustentar.

Seus beijos dá-os já sem sacrifício
a todo aquele que a quiser beijar.
E de tantos gemidos abafar
só no seu peito d'ais se encontra indício.

Toda a tristeza que há na vida - e é tanta! -
sempre nessa alma um eco vai deixando
e para alívio dos seus males canta.

Mas julga a gente que ela está cantando,
ouvindo a voz gemer-lhe na garganta,
ela coitada, está mas é chorando.

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