sexta-feira, 22 de julho de 2011

Vai-te, fera cruel, vai-te, inimiga (Bocage - 1765-1805)

Vai-te, fera cruel, vai-te, inimiga,
horror do mundo, escândalo da gente,
que um férreo peito, uma alma que não sente,
não merece a paixão que me afadiga.

O Céu te falte, a Terra te persiga,
negras fúrias o Inferno te apresente,
e da baça tristeza o voraz dente
morda o vil coração que amor não liga.

Disfarçados, mortíferos venenos,
entre licor suave em áurea taça,
mão vingativa te prepare ao menos;

e seja, seja tal a tua desgraça,
que ainda por mais leves, mais pequenos,
os meus tormentos invejar te faça.

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