terça-feira, 9 de agosto de 2011

Credo (Mario Benedetti - 1920-2009)


De repente a gente se afasta
              das imagens queridas
amiga
ficas frágil no horizonte
te deixei pensando em muitas coisas
mas espero que penses um pouco em mim

tu sabes
nesta excursão para a morte
             que é a vida
me sinto bem acompanhado
me sinto quase com respostas
quando posso imaginar que lá longe
talvez acredites na minha crença antes de dormir
ou cruzes comigo nos corredores do sonho

não preciso te dizer que a esta altura
não acredito em oradores nem em generais
nem na bunda da miss universo
nem no arrependimento dos carrascos
nem no catecismo do conforto
nem no pobre perdão de deus

a esta altura do jogo
acredito nos olhos e nas mãos do povo
em geral
e nos teus olhos e tuas mãos
em particular.

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