segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mater dolorosa (Ivan Junqueira - 1934)

Entre os túmulos e os dobres
é que vens, lenta e lutuosa,
nas mãos o cântaro e a rosa
que, defunta, já não colhes.

São teus olhos duas covas,
como as dos crânios, inóspitas,
mas eis que delas escorre
o que a morte não encobre:

essas lágrimas que bóiam
à tona do que, sem bordas,
foi outrora a tua história
e agora é o pó dos espólios.

Úmido é o húmus da morgue
e do catre em que te encolhes,
como se o frio, em teus ossos,
queimasse mais que uma forja.

Muda e estóica até na cólera,
resta a cinza dos teus fogos.
E o que de mim ainda sobra
busca a tumba do teu colo.

3 comentários:

  1. E o que de mim ainda sobra
    busca a tumba do teu colo.

    que lindooooooo!

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  2. Como a morte pode ser vista e descrita de forma tão bela...

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  3. A morte rende tantos poemas porque os poetas sabem que ela é transformação... E a transfomação é bela!

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