sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poema XI (Rogério Carrola - 1947)

Preferes então a história dos três arbustos?

Digo-te já: três medíocres arbustos.

Quantas vezes quietos na calma do vento e, outras,
agitados pelo mesmo vento ou talvez por um mal interior indecifrável.

Três arbustos presos ao terreno onde horizontalmente
os seus pés têm marcada a condenação.

Junto ao solo, mas não tanto como isso, eles suspendem o princípio
de uma música que o tempo escreve.

Dentro deles existe uma seiva, princípio da terra que se há de abrir
à morte de todos os arbustos.

Um silêncio cresce-lhes nos pés e sobe até ao gosto do vinho acre
que a brisa transporta depois para os lados do mar.

Digo-te: são três arbustos de montanha.

Não mastigam algas nem conhecem outra cor
senão a dos ossos milenários que a montanha tem dentro de si.

Preferes então a história dos três arbustos?

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